Estamos chegando no fim do ano, período em que as pessoas costumam viajar para curtir as festas de Natal e Réveillon. Aproveitando o gancho da retomada do Turismo, gostaria de falar de um tema bem interessante: construção e reforma de pousadas e hotéis. Nesse artigo trarei dicas tanto para turismólogos e empreendedores que sonham em iniciar esse tipo de negócio, mas não entendem nada de obras; assim como para profissionais de arquitetura e design que desejam encontrar um novo nicho de atuação.
Para quem vai construir o hotel ou pousada do zero, inicialmente será preciso analisar o sistema construtivo e fazer um projeto bem detalhado. Afinal, não estamos falando de uma casa ou um comércio pequeno, mas sim de um local com uma rotatividade maior de pessoas. A partir disso, o tipo de construção escolhido irá determinar o cronograma da obra. Por exemplo, para quem tem pressa de entregar um projeto, já focando na próxima temporada de férias, terá que estudar os métodos mais indicados de acordo com as suas necessidades. Caso seja feita uma estrutura metálica ou se compre tudo pré-fabricado, pode ser que você demore cerca de 15 dias para criar as bases. Já se você optar pela alvenaria, esse tempo pode chegar até 45 dias. Portanto, a velocidade e a segurança da sua obra necessitam de boas decisões.
Em alguns casos, o método mais caro pode até compensar, sabe por quê? Com o hotel sendo aberto antes ao público, é possível recuperar parte do dinheiro por meio da operação. Por isso, tudo precisa ser analisado cuidadosamente antes. O ideal é ter a participação até de um contador, para que ele verifique se a conta “fecha” no final.
Como falamos das construções do zero, também temos que lembrar das reformas, principalmente de hotéis antigos que terão que passar por um retrofit, assim como de outros estabelecimentos mais novos, mas que desejam melhorar os seus espaços. Geralmente as pessoas associam obras a estresse. Então, como realizar alterações em um hotel / pousada que está naturalmente vinculado a descanso e relax? São lados totalmente opostos! Portanto, se o local em questão não quiser fechar as portas completamente durante o período de melhorias, será necessário criar uma série de ações, a fim de evitar aborrecimentos a seus clientes atuais. Vamos entender melhor?
Esse processo é um pouco complexo, afinal os serviços dos espaços essenciais não podem parar – quartos, elevadores, área de refeições, garagem, lounge, etc. Dessa forma, é importante montar uma logística organizada, a fim de que os efeitos da reforma não possam impactar na experiência de quem está visitando o local. Lembre-se, a primeira impressão é a que fica! Então, é recomendado criar “áreas provisórias” para conseguir atender a todos. Por exemplo, se eu for reformar o restaurante do hotel, será preciso criar outro provisório para que os hóspedes tomem o café da manhã.
Outra dica: como tudo continua em operação, o ideal é que a obra seja realizada por partes. Sendo assim, estude a possibilidade de deixar um andar ou alguns quartos vazios, de forma a não permitir que o barulho chegue até seus hóspedes (ou pelo menos que seja amenizado). Dessa forma, vá realizando esse deslocamento ou rodízio entre as áreas, a fim de que o espaço de quebra-quebra esteja bem longe. Exatamente por questões como essas, é que você vai precisar ter pessoas experientes.
Em um artigo anterior, em que falei sobre obras em bares, eu já havia alertado sobre essa mesma questão: é preciso estar atento a todas as leis que estão vigorando no seu município – sejam normas sanitárias, de acessibilidade (estrutura adequada para o auxílio de cadeirantes ou deficiente visuais, por exemplo), assim como as questões de segurança (rotas de fuga, uso de materiais que não propaguem incêndios, prevenção de acidentes), etc. Como se trata de um estabelecimento que irá atender ao público, tudo precisa seguir a legislação vigente. Então, se você não tem essa expertise, eu sugiro contratar um profissional para uma consultoria. Assim, você não corre o risco de construir um espaço inadequado e que não poderá ser licenciado posteriormente.
Como citei acima, um hotel precisa ter copa e restaurante, seja para as pessoas se alimentarem em uma área social, ou para que as refeições sejam levadas até os quartos. Então, quando falamos desse tipo de projeto há uma série de questões técnicas, de forma que a estrutura seja capaz de dar conta do fluxo de clientes. Por isso, uma série de perguntas precisa ser respondida antes do início de tudo, tais como: Quantas refeições em média o seu estabelecimento espera preparar por dia? Há diferença de atendimento entre almoço e jantar? Qual é o tamanho ideal da coifa para a quantidade de refeições que será realizada por dia? E os espaços de preparação e lavagem de alimentos, quais as metragens indicadas? Se tiver buffet vai ter pista quente para não esfriar as refeições? Portanto, contrate profissionais especializados no segmento.
Nada melhor do que se hospedar em um quarto com uma vista incrível não é mesmo? Porém, é preciso pesquisar muito bem o terreno, assim como o entorno do local onde você deseja construir. Para esse tipo de trabalho, eu recomendo a contratação de um topógrafo (que fará o levantamento das características daquele terreno), assim como o uso da tecnologia a partir de drones, que contribuirão com fotos e vídeos aéreos.
Com essas imagens em mãos, então será possível “mapear” os pontos fortes e fracos da região, de forma a valorizar ao máximo o que há de bonito ali. Assim, como descobrir os detalhes sobre a natureza e geografia locais, além do melhor posicionamento para os quartos. Há pouco tempo, foi exatamente isso que aconteceu em um projeto no Nordeste, em que solicitamos fotos de drone para estudarmos melhor o local de construção de uma pousada.
Esse tipo de estudo não deve ser feito apenas para valorizar o visual, mas também uma alternativa para tornar os ambientes mais confortáveis e, quem sabe até econômicos. Afinal, sabendo o melhor lado para construir de acordo com a posição do sol, haverá menos reclamações de calor os seus clientes, assim como uma menor utilização de ar condicionado. O mesmo vale para locais frios, de forma a tornar o espaço mais aconchegante, e assim por diante.
Veja bem qual será o perfil de seus clientes e construa o seu negócio com base nele. Por exemplo, se você for fazer uma pousada no campo, quais são as condições da estradinha local? Está esburacada ou ainda é de terra? Afinal, há o risco de um público mais exigente não gostar desse inconveniente, principalmente para quem tem carros mais luxuosos, por exemplo. Nesse caso, estude até a possibilidade de criar um acesso exclusivo e mais adequado para chegar até lá. Ou, se você quiser trazer hóspedes internacionais, o seu futuro hotel fica próximo de um aeroporto? Qual é logística para chegar até lá? Ou, caso você oferte um serviço de hospedagem mais em conta, a sua pousada está localizada próxima de uma rodoviária? Há serviços de táxi e ônibus fáceis? Portanto, fique de olho na infraestrutura do bairro / cidade.
No meu artigo da semana passada, nós falamos sobre sustentabilidade. E, olha esse assunto aqui de novo! Da mesma forma que você pode evitar gastos excessivos com base nas escolhas durante a construção, também é possível reutilizar recursos naturais e economizar dinheiro. Com um sistema de água de reuso, por exemplo, é possível aproveitar a água da chuva para regar os jardins ou abastecer os vasos sanitários do hotel. Já com um sistema de aquecimento solar, você pode reduzir os seus gastos, ou explorar a ventilação natural, poderá economizar no ar condicionado (que é o maior vilão da conta de energia). Também poderá incluir torneiras que fecham sozinhas, entre muitas outras alternativas. Por isso, quando for fazer a conta, imagine essa economia vezes o número de quartos que você tem: 10, 50, 100? É muita diferença no final!
Por fim, não podemos esquecer de um dos principais atrativos: as áreas de eventos (lazer, recreações ou convenções), como quadras, piscinas, salões, espaços de shows, etc. Porém, como o hotel precisa ser múltiplo, o ideal é que você tenha uma estrutura que beneficie tanto quem quer realmente descansar quanto quem deseja se divertir. E como conseguir unir essas duas vontades? O isolamento acústico desses espaços, assim como dos quartos é uma excelente solução. Portanto, investir em caixilhos de janelas ou em portas acústicas são ideias que podem mudar totalmente a experiência do hóspede. Sinceramente, esse é um aspecto importante, mas que vejo ser pouco utilizado, então pode ser um diferencial interessante no seu negócio! Inclusive, pode ser determinante para o seu cliente voltar de uma próxima vez!
Criado há 14 anos, o escritório é comandado por Bruno Moraes, arquiteto formado pela Faculdade Belas Artes de São Paulo (FEBASP) e pós-graduado em Gerenciamento de Empreendimentos na Construção Civil pela FAU Mackenzie. Bruno passou por grandes escritórios, como o do arquiteto Siegbert Zanettini, onde participou do projeto de ampliação do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento Leopoldo Américo Miguez de Mello (Cenpes), da Petrobras, considerado o maior projeto sustentável da América Latina.
O escritório atua nas áreas de gerenciamento e execução de obras, além de se dedicar à concepção de projetos de casas, reforma de apartamentos, retrofits, espaços corporativos e áreas comuns de edifícios. Dispõe de equipe própria de obra, cuidadosamente treinada para gerir os trabalhos com processos próprios desenvolvidos pelo escritório que usa, entre outros diferenciais, um aplicativo personalizado. A marca BMAStudio tem trabalhos publicados nas mais importantes publicações de decoração e arquitetura do Brasil. Desde 2019 participa do quadro de decoração do Programa da Eliana, no SBT, e em 2022 assina novamente a reforma de novos ambientes.